domingo, 7 de fevereiro de 2010

Festa de Aniversário

O cheiro do doce foi profundo e deixou Pedro com água na boca. Mas estava cedo e ele não podia começar a comer antes de todos os convidados chegarem. Foi à janela para ver as crianças que chegavam. Logo foi possível escutar o barulho das que cruzavam a sala atrás dele, correndo, gritando e sorrindo. Pedro então foi para a outra janela, ainda maior e ainda mais bela. Havia muito cheiro de guloseimas, mas ele conseguiu sentir apenas o cheiro da luz que já despontava imponente e solitária mesmo antes do sol se pôr por completo.

Festas de criança são mesmo meio chatas, mas em família tudo tem o seu valor. A luz incomodava os olhos e os ouvidos de Pedro que escutava o seu canto silencioso. Estava confuso. Estava certo de tudo. Este era Pedro, desencaminhado, quieto, silencioso. E a festa começa. Ele conhece os convidados, os trata com simpatia admirável; sorri. Serve. Come. Mas Pedro ouve sempre o canto silencioso da lua, que não cessa. Falta alguma coisa, e ele sabe disso. Talvez falte alguém e por isto Pedro se sinta tão sozinho, por isto talvez ele se sinta tão atraído pela lua.

Crianças correm, caem, se molham de refrigerante. Pessoas conversam, riem. Pedro também ri quando vê alguém se sentar num prato de salgadinhos. Uma estranha agora, já há estranhos na festa. Todos se tornam estranhos, se tornam vultos, se tornam vozes. Mas Pedro enxerga um rosto, um único cheiro, um único sorriso e um único toque nas mãos.

Sozinho, Pedro tenta sentir o cheiro de bolo, canta parabéns, chama de puxa saco pelo primeiro pedaço, come, passa cobertura de bolo em alguém, mas a brincadeira não se estende. Pedro não queria estar só, mas não teve escolha, não soube convidar. Pedro respira. Pedro sorri. Pedro descansa um pouco em seu quarto.

O silêncio lentamente se aproxima. A festa termina. Pedro come salgadinho frio e bolo amassado guardado num pote de plástico. Todos dormem. E Pedro vai outra vez à janela. Ele e a lua se olham. Ela canta para ele e ele escreve nela.
"Não é que eu não saiba exatamente o que eu sinto,
é que os verdadeiros sentimentos não precisam
ser compreendidos" - Pedro

A janela se fecha. Ele desce com um pote de salgadinhos frios e vai para o quarto dormir...

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