quinta-feira, 11 de agosto de 2011

pouco sol

Muito pouco sol entra pela minha janela,
meus olhos já se acostumaram a pouca luz.
Tudo foi sempre muito pouco e muito restrito,
faltavam olhares,
faltava dinheiro,
faltavam amigos,
faltavam cheiros, sensações...
sempre caminhei isolado em minha literatura,
protegido por ela.
Não aprendi a curtir o sol
e hoje
sinto falta de seu calor ter aquecido minha alma
quando eu ainda nem sabia o que era alma.

Compreendi
desenvolvi
amadureci
mas não dá mais tempo de proteger a criança
que ficou perdida e ferida
por não saber olhar para a luz;
a criança que teve os olhos fechados
por medo da dor
e com isto aprendeu a ter medo do sol.

Minha janela está coberta com um pano preto
há apenas uma greta,
um corte em meu coração que me ligou com um mundo que eu não conheço.
Meus desejos sempre foram cobertos com um pano preto
cobertos por um menino que não sabia
o que era o seu coração.
Vão todos ficar lá
para sempre.

Reconstruo novos desejos,
reabasteço-me de sensações reais
mais fortes e mais intensas do que as perdidas,
mas o meu coração é o mesmo do menino perdido embaixo dos panos pretos...
crescido com muito pouco sol,
curtido em silêncio com as palavras,
palavras que hoje podem me dar a eternidade.

Não foi o sol que trouxe-me o amor.
Foram as palavras.
Jamais vou tirar os panos pretos da minha janela.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

.

Sou apenas um poeta
com o coração rasgado pela vida
de olhar calmo, atencioso e demasiadamente observador.
Sinto minhas dores
mas as aumento em milhões de imagens
até que meu anjo me salve,
e quando não puder salvar
deixarei que a poesia as amenize
como sempre fez antes do anjo chegar.

Sou apenas um poeta
cuja poesia conheceu a felicidade plena
uma poesia limpa, suave, sutil
nas mãos de uma poetiza maravilhosa.
Um olhar que cativa a todos que se encontram à sua volta,
mesmo os inconvenientes;
uma força e um desejo de vida tão intensos
que torna seus amigos os melhores amigos do mundo.

Sou apenas um poeta
de mãos dadas com a mais bela poesia do mundo,
a poesia de Natália Possas
que me trouxe sentimentos que as palavras jamais serão capazes de escrever.
Mas que tentarei infinitamente a cada dia;
porque as palavras me levaram até você.
Sou apenas um poeta com um coração frágil,
uma cabeça misturada (última vez que uso este termo)
e com palavras às vezes ditas de forma perdida.
Um pequeno e sutil poeta
que de importante tem apenas sua poesia
e de grandioso
tem o seu amor.

Sou um poeta
porque é tudo o que preciso ser ao seu lado.
Tenho amor
tenho felicidade
tenho desejos
e tenho seus carinhos
que tocam o meu coração com tanta delicadeza
que as dores somem.
Sou o seu poeta
e minha poesia
nasceu para conhecer a sua.

sábado, 6 de agosto de 2011

Frames


Ônibus pela manhã
balançando muito
muitas bolinhas no olho que dormiu pouco
cabeça encostada no vidro
olhar úmido
manhã nublada
olhos fechados reconhecendo o caminho
ônibus correndo
balanço que sacode demais o estomago
lembranças da noite de formatura
muitos sorrisos
ela muito feliz
amigos
canudos com confetes dentro
apitos
cartazes
mais amigos
família
conquista
frames de um dia feliz que eu vejo
recortados pela simplicidade do meu olhar
bar
muito tempo no bar
conta barata
primeira dose de whisky
até que é fraquinho
muito sono agora
três horas dormidas num sofá
os sofás ficam muito longe das camas
longe demais
só queria alguns momentos a sós
nestes três dias de festa
dormir algumas horas abraçado
ter o meu momento egoísta e deliciosamente apaixonado
mas estamos condicionados a um humor que não é o meu
várias doses de whisky
uma aula de valsa no bar às 3 da manhã
um ensaio que não vai existir
um poema cujos dedos estão cansados ao digitar
vou dormir depois do poema
como me fez falta o óculos de sol
vou dormir porque tem baile hoje à noite
vou levar o óculos de sol para voltar no domingo de manhã
volta chata e sem graça
o baile vai ser lindo
muitos sorrisos
muitos amigos
muitos abraços
e mesmo que a luz dura do sol bata em meus olhos
vou voltar pra casa feliz
sou um convidado de honra
ainda que um convidado
não virei família
não vou dormir abraçado
mas vou dormir com o cheiro da lembrança
desses três dias felizes
em que me orgulho de você
ela linda no baile de azul
felicidade
felicidade condicionada
mas ainda felicidade

terça-feira, 2 de agosto de 2011

___________________________

Eu não estou aqui
por isso eu não sei dar nomes
e me confundo com o desenrolar de cada história.
Não sei mais pensar,
não sei mais perceber as sensações;
tudo ficou preenchido de um espaço tão grande
que me perdi dos meus próprios desencontros.

Eu não estou aqui sentado
diante de um computador e de um blog
porque ninguém me disse que eu poderia estar
e nesse mundo tudo é uma questão de poder ou não poder.
Cresci desobediente,
teimoso, gritador, baderneiro quando preciso;
descobri com o tempo como é aceitar a ordem,
como é não estar,
e ainda,
como é querer não estar para que o outro esteja.

Eu não estou aqui,
porque o eu que eu conhecia
tinha a cabeça erguida como um girassol em pleno meio dia,
olhando audacioso para a vida...
seguindo seu destino,
os amigos se foram,
o empregos também,
os desejos se encerraram e sinto tanta falta de tanto que nunca fiz...
tudo porque nunca quis me esquecer do que sou feito,
mas hoje não estou aqui,
porque me sinto tão desintenso, tão não certo,
não sei nem se o que faço agora é sentir.

Não estou aqui,
porque aqui, neste mundo em que não poder é o maior direito,
eu não vivo,
não em conformidade com ele;
e se me conformo, como o tenho feito,
ou não estou aqui,
ou não estou mais vivo...
a questão é que,
dói tanto que a dor me prova que a vida ainda permaneceu,
então não permaneci eu.

Não estou aqui,
e se não estou o que estará em meu lugar?
Um homem que vai enriquecer porque o conforto de sua vida é o que importa?
Um homem que um dia vai usar roupas mais caras do que o que muita gente gasta com comida por meses?
Um homem que se esqueceu do que foi feito?
Não quero que este seja eu,
e se o for,
que a dor se finda,
e só assim saberei que não existe mais vida...

Não estou aqui,
porque o aqui que eu conheço
é onde todos podem tudo,
é onde a vida se renova e nunca se esquece de ser vida.
É onde eu sonhei estar
e descobri que eu não sonhei ser quem eu sou.
Cada um escreve a sua história e minhas mãos escrevem qualquer história,
e ando escrevendo uma na qual
um homem aprende que obedecer o sistema
porque todos à sua volta o veem como certo,
acatar suas regras e deixar
que a vida transcorra dentro de muros fechados à verdadeira essência humana
é o correto.
Não quero contar essa história, por isto não quero estar aqui comigo.
Não me sou boa companhia.

Não estou aqui,
porque aqui está aquilo que eu mais repudio,
e se isto sou eu,
qual o sentido de pensar ser alguma coisa?
Não estou aqui,
porque aqui não posso ver seus olhos,
e é tudo o que eu mais preciso agora,
sua voz demorou tanto pra chegar e já se foi...
mas fomos obedientes,
alguém disse que não podia,
então não podia,
aceitamos que fosse assim...
e de tanto não poder tantos morrem
enquanto outros desperdiçam sua vida num luxo que não conseguem digerir.
Por isso eu não estou aqui,
porque se eu estivesse não estaria calado.
Não sei o que não aguento mais perder, não sei o que quero ganhar.
Só sei que o que perdi
talvez nunca mais encontre,
eu.

Não estou aqui,
está apenas o poema
e um recorte desestabilizado da memória do que um dia pensei ser.
Sou fraco, obediente
e aceitei as imbecilidades que a humanidade chamou de certas,
justo esta humanidade que construiu sua história
baseada em guerras, destruição e terror.
E quanto mais somos quietos, mais as atrocidades nos cercam.
Por isto eu não estou aqui
porque no mundo em que desejei viver os homens gritam contra as atrocidades,
mas aqui eu as aplaudo com eles.
O certo e o errado,
criado por quem?
Aceitado por todos nós...

Não estou aqui,
porque se estiver,
já deixei de viver há muito tempo...