segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Elegia 41


Sentar sozinho em uma padaria
                                                e comer uma fatia de bolo...
talvez ler um livro, porque minhas palavras se perderam
então bebo as palavras de outros.
Ano 41, toda a razão desumana agora conhecida e experimentada.

Tenho um inimigo que dispara suas armas todos os dias
para que eu não me levante.
Tenho amigos,
mas nenhum deles sabe como eu me sinto.
Acordei no ano 41 e recebo várias mensagens
                                                               mas nenhum abraço.
A vida se tornou uma exibição de nadas
para que outros nadas vejam
e o vazio rasga as almas, ou o que resta delas.

Sentar sozinho, a solidão é a única companheira fiel.

Como um verso solitário
de palavras que já não encontro.
Como o silêncio dolorido
massacrado pelo ruído dos corações de pedra.

Sentado sozinho ao lado de palavras perdidas
que nunca serão ouvidas, pois só possuem forma
comemoro o ano 41
com o silêncio das minhas palavras apenas minhas.   

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

eu sou o futuro


O que me matou
me fez parar de escrever
não foi a doença da depressão ou ansiedade
não foi a pobreza o desprezo e medo do mundo
não foi meu coração ou minhas células
não foi a loucura dentro de mim
o que me matou
foi o presente e a certeza de estar nesse mundo
nessa sociedade
em que minhas palavras giravam num círculo infinito
infinitas mas se acabando em um fim que era o começo
e foram se apagando e sumindo da minha alma
que sumia com elas por ser parte delas
o que me matou
foi eu querer ser como os outros todos
acertado e seguro com dinheiro no bolso
não que eu não possa me acertar e assegurar ou ter dinheiro
mas o que mata é fazer do benefício ilusório o seu objetivo
porque aí a alma perece sem motivo
já que o mundo me faz acreditar que ganhei
só que perdi a mim mesmo e morri
o que me matou foi a ilusão de que a vida pode ser explicada
e que eu a explicaria
mas eu nem sabia o que falar pois a vida sumia de mim
e eu falava menos e repetia mais
e eu tinha todas as palavras e todas fugiam de mim
o que me matou foi esquecer-me de mim
eu sou o futuro e o passado
sou a insanidade do tempo quando se nega a passar
e com isso constrói a eternidade
eu sou as palavras ditas e não ditas
as conhecidas e desconhecidas
as lembradas e as apagadas da mente pequena
que crê na mentira de conhecer o mundo
através de um mundo que não existe
o que matou
esqueceu que sem tempo eu sou imortal
insano tempo da eternidade não explicada aos atemporais a você
insana mentira que nos abraça e faz crer na proteção
mas que suga nossas almas para se tornar ainda mais parecida
com nossos sonhos e desejos e os engana ditando o que nunca quisemos ser
o que me matou
se desfaz e volta a poesia cheia das palavras que nunca perdi
sem regra alguma e nada que pare a energia de vida
eu sou como o tempo e pertenço ao amanhã
porque o passado é história e o conto
e o hoje é feito de palavras e então eu tenho todos eles
que não irão se apagar em minhas mãos de poeta
o que não me matou tentou me matar
mas se esqueceu da poesia que não vem de lugar algum
e por isso está em tudo e nunca sucumbirá
à ilusão de um tempo perdido
e agora eu compreendo que estou em todo lugar e em todo momento
em mim e em cada um fora de mim
pois quanto mais longe mais dentro
eu sou o futuro e vou convidar você a ir comigo
onde o mundo não engana mais
e esse futuro nasceu escondido em seu coração
e é preciso acordar
não amanhã e sim agora
no tempo das minhas palavras