terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Nunca passei de um filho da solidão que eu prego não existir,
dentro de mim há um peito cravado das palavras que escrevo
me dizendo que o tempo passa despercebido por mim
sem me levar, e também sem me deixar parado.

Conheço a função das lágrimas, conheço a função das mãos,
e apenas desconheço como controlar as mãos que escrevem palavras,
pois desconheço o sabor das lágrimas no rosto,
embalado pelo calor do frio que roça a minha pele quando estou aqui.

Me sobra tempo, me sobram histórias, me sobra poesia
pra dizer que não sei levar tudo onde eu quero que vá,
porque desconheço o caminho e caminho só.

Me abstenho da forma, digito um soneto padrão;
porque assim posso me perder dentro da minha verdade
e ainda dizer, a arte não deve ser alimentada só de solidão.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

E se passa

Quando o sol brilhar
contemple a noite que chega com suas vozes intensas,
ria das estrelas e veja os mundos que ainda não conhece;
porque o se passa é o caminho que somos incapazes de conhecer.

Quando a fé tirar os seus companheiros,
até mesmo os mais leais
entenda que eles só queriam ouvir a voz da divina palavra
vinda do que eles não viram e fizeram força para acreditar,
afinal a verdade deve ser una e não pode pertencer ao simples humano em corpo,
deve pertencer àquele que fala com retórica sem chegar a nenhum lugar,
pela boca de ninguém,
porque o tolo que busca a elevação não se torna ninguém.

Quando o medo for o combustível e a incapacidade formar seus seguidores,
siga sozinho porque a escuridão da noite que brilha
ama os solitários e dá a eles o poder da criação.
E suas mãos escrevem
o que as palavras esqueceram em você.

E quando os deuses, os grandes guias
se aproximarem de você,
não duvide, ria da fraqueza de suas almas que se acham escutadoras da palavra do deus
e levam consigo mentes pobres, corpos escondidos e almas doentes,
e que bom que são doentes, porque assim eles têm a quem tentar curar.

E quando o dia chegar,
lembre-se da noite
e saiba que ela não abandona os verdadeiros humanos,
os que sabem que se todos somos um,
não há guias, ou falas transmitidas através da matéria,
ou santos, ou milagres, ou deuses, ou demônios,
ou do que você quiser chamar aquele em quem acredita.
Se somos um eu posso tudo, sem que ninguém me diga.

Mas os doentes não têm coragem de olhar para a verdade
e sim, existe uma verdade,
ela não está diluída, um pedacinho em cada roda religiosa.
Ela existe e rodas ou templos decidem apenas sua pobre forma de não olhar par ela.
Que são muito parecidas, apenas disfarçadas de discursos com cores diferentes.

Então,
é preciso que fiquem doentes para que os seus líderes acalantem os seus corações,
para que os amem e os sigam,
como ovelhas guiadas por um pastor,
um salvador,
sem o qual você, pobre e pequeno ser sem identidade,
estaria perdido nos seus pensamentos e traumas,
sem que eles fossem inconscientemente tratados e isto mudasse você,
sem que perceba;
graças ao divino guru a quem você tem certeza, sempre teve é o que acredita,
estava destinado a encontrar.
Aquele que algo dentro de você faz saber e acreditar que é o seu caminho.
O mesmo algo que faz doente.
É. Seu algo é mesmo confiável. Claro que deve confiar na intuição de alguém
incapaz de cuidar da sua cabeça sozinho,
alguém incapaz de acreditar em si mesmo,
alguém incapaz de tornar verdade a sua força interior,
alguém incapaz de controlar seus pensamentos,
alguém incapaz de saber se é guiado por outro ou não,
alguém incapaz de enfrentar seus fantasmas,
alguém incapaz de desobedecer qualquer ordem,
alguém incapaz de acreditar em si mesmo e em sua grandeza,
alguém incapaz de se olhar e confiar;
mas, quando encontrar seu templo e seu guru, terá uma certeza feroz e os defenderá
mesmo que isto custe a vida de outros.
Porque você é incapaz de tudo,
menos de duvidar do discurso desencaminhado do ser intangível.

Quando a noite chegar.
Eu não serei cego.
Eu não serei o seu guia.
Eu irei.
Porque não sou incapaz,
não tenho líder,
não tenho círculo ou templo,
não aprendi uma forma de não ver da verdade.

E quando você não puder mais me entender,
perderá a minha criação,
que é tangível e esteve o tempo todo depositada sobre suas mãos
para buscar a fé na criação guiada pelo divino fluido ou tão superior que te mantém longe.
Ou mantém como marionete incapaz.

E se passa,
é, o tempo passa
e deixa preso ao tempo quem não quis ver o que ele é,
é tangível,
tem sabor, cor, cheiro, gosto, corpo...
E se passa,
é, a arte passa e acaba quando a tememos.
E tem mesmo que passar
e levar com ela só os capazes,
pois só eles podem entender e transformar a criação.
E criação não é distante de nós,
você mora dentro dela, pisa sobre ela, e se alimenta dela,
e adoece fugindo dela.

E se passo,
sim, eu passo
porque vou,
criar é ir, conhecer caminhos,
com medo ou coragem, mas sempre ir
como o tempo, que de tanto ir,
tornou-se tudo.