Assim como o tempo desembarca em nós e nos faz passar
as palavras que eu tenho, por muitas vezes desencontradas de
si
me mostram que o tempo é uma ferramenta de nós mesmos
cheio de imperfeições, adequado ao que flui
antiquado ao que se estagna na essência resignada
que fere almas com o furor de não se viver
em busca apenas de contemplar-se diante de um tempo frágil
banal e de pequena eternidade.
Velejamos na areia do destino rodeados de certezas
armados com o nosso medo do que não controlamos
isso porque achamos que a areia é o calmo mar ao nosso
comando
isso porque acreditamos que estamos velejando
mesmo quando parados de pés fincados em chão de rocha dura.
E nele, sabemos tudo o que pudemos aprender
vendo nossos pés parados, estagnados,
amados assim, armados de correntes de areia em um mundo
morto.
Logo ao início desse tempo eu vi que a vida era infinita,
abracei-me à sua insanidade e descobri
que insana era a minha vontade de ser dono de mim
e assim, aliado ao fluxo desordenado da luz que se dobra ao
tempo
pisei sobre as palavras e deslizei para fora do monte de areia.
O tempo que passa não passa se passamos com ele
mas passa vertiginosamente se lutamos contra sua
inevitabilidade
que nos deixa a saudade do movimento que nunca aconteceu
e parados, amamos o ponto perdido para onde nunca paramos de
olhar
e de procurar o caminho,
mas não há caminhos quando não existe movimento.
Eu não subtraio-me do tempo com as minhas palavras,
eu me agrego a ele, passando-me como fugaz que sou,
tão fugaz como o não existir, tão real como o nunca visto,
tão perto como o não tocado, tão vivo como o que já se foi.
Alheio à missão do tempo eu não sou velho, novo,
ou coisa alguma, já que passei de mim a mim mesmo
e ouço a canção da vida
tão silenciosa que jamais será ouvida, ou esquecida.
Tudo passa.
Tudo torna-se poeira do tempo.
A vida só existe porque desmanchamo-nos em existência.
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