sábado, 21 de setembro de 2024

pequena gota de orvalho

Já me disseram que sou forte como uma rocha,

intenso como um trovão;

mas nunca fui nenhuma dessas coisas,

sou volátil como uma gota de orvalho

que desaparece ao menor sinal da luz do sol.

 

A rocha fica sempre no mesmo lugar, sendo a mesma rocha

o trovão é apenas um barulho do raio que já se foi;

a gota de orvalho estará sempre lá,

cada dia em um lugar, de uma forma,

nunca repetida, nunca completamente desaparecida.

 

Sou como a gota de orvalho

que existe e deixa de existir todos os dias

e em seu vai e vem, torna-se eterna

na efemeridade de se refazer constantemente

e nunca ser a mesma, porque uma é todas.

 

Somos vários aqui dentro

um poeta que quer dançar ao invés de escrever,

um roteirista que flutua entre personagens sem rosto,

um escritor sério que planeja as palavras do futuro

ou moço do palco que quer ser visto, ouvido e compreendido,

o menino apaixonado que parece nunca envelhecer

jogando consigo mesmo para ser o motivo da existência de todos;

porque todos somos um, perdido na multidão de nós mesmos.

 

Eu existo por pouco tempo

amanhã serei outro

genial, louco, ou cheio de timidez

eu nunca sei dizer quem virá

porque o que me faz ser eu mesmo

é a incerteza

criada pelos fragmentos do que existe dentro de mim.

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