sexta-feira, 20 de setembro de 2024

bolso

Um homem morto pode jogar cartas

a menos que elas estejam no bolso escondidas

não para trapaças,

mas porque ele não quer vencer.  

 

Você está do outro lado da mesa

com seu sorriso puxado

seus olhos atentos

sua voz que carrega todas as suas emoções

e eu... aqui desse lado, cheio de cartas no bolso

que nunca serão jogadas sobre a mesa

para que eu perca o jogo

antes mesmo dele começar.

 

Já possuí palavras demais

que mesmo ao irem embora, continuam aqui

atormentando os meus pensamentos e me escondendo em uma caverna de poesia onde o tempo esqueceu de passar e eu nunca aprendi quem eu realmente sou.

Talvez seja tarde demais.

Sempre é tarde demais para quem se perde do tempo.

Eu não posso arriscar o seu tempo ao lado do meu

pois eu sei que o instante e o eterno, para mim, são a mesma coisa.

 

O efêmero dura para sempre na minha mente

a dor é indelével, o amor inexplicável

cheio de nuances confusas e labirintos indecifráveis

e o fim,

ah o fim nunca chega assim como o início nunca acaba.

E eu sei compreender tudo como um velho,

mas posso amar como um garoto

e esse inferno parece um paraíso feito de ilusão

que não pode ser sonhada

já que a vida real não existe.

 

A alma precisa de coisas tão simples,

a mente de tramas tão complicadas

mas a minha mente transpassa minha alma e busca de complicar as coisas simples

e a alma invade a mente e simplifica seus labirintos,

mas os deixa sem saída.

Eu estou perdido, mas sei exatamente onde estou,

porque o lugar é pequeno demais.

 

A mente sabe como jogar as cartas

a alma quer que elas sejam jogadas

a poesia me ensinou os movimentos certos

o tempo confuso deixou as cartas intactas à decomposição

o universo as perfuma como se todas as constelações brilhassem em um único sorriso

eu as sinto, como um coração que bate forte demais para ser interrompido

e fraco demais para me fazer explodir em palavras de amor

e as cartas, é claro, guardadas no bolso

escondidas de mim,

mesmo eu sabendo exatamente onde estão.

 

Um jogador quebrado precisa de cartas

mas as teme por saber que elas perdem e ganham

já que quebrado, ele está perdido entre seus cacos

menor que uma velha carta sob o pé de uma mesa

usada apenas para parar o movimento errado.

 

E assim meus olhos olham o que não sabem ver

e minha mente constrói o que nunca existiu

e eu, jogador de outros tempos,

jogo fora minha euforia

para que meu tempo não sucumba o sorriso de ninguém.

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