domingo, 6 de outubro de 2024

À Deriva

Então ele... desata as cordas e recolhe as velas

deixando que o ar não seja mais capturado

no velho dorso das velas cansadas

levemente rasgadas de enfrentar furacões

e continuamente mover o pequeno barco

ao contínuo encontro de ondas ferozes.

 

Um pescador cansado parou de arremessar a linha

que aprendeu a jogar ainda garoto

para se conectar com a vida que girava à sua volta

vida que nunca quis olhar sobre o barco feio

de madeira antiga e pintura não muito aprimorada.

 

Ele pescou muitos olhos, muitos sorrisos, muitos abraços,

pescou amores e paixões, amigos e companheiros

mas sempre se sentiu sobre o barco

protegido, ou isolado, onde linhas nunca foram jogadas...

 

hoje ele veleja só, sem ser empurrado pelo vento,

com ombros doloridos para ainda lançar linhas

abatido, nunca requisitado como amigo, apenas como pescador.

 

Nunca notado, nunca lembrado, ele ergueu-se sobre o velho barco, ao pôr do sol

viu pararem as ondas e o oceano tornou-se melancolia...

 

e verso a verso o pescador de palavras se recolheu à solidão.

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