quinta-feira, 11 de agosto de 2011

pouco sol

Muito pouco sol entra pela minha janela,
meus olhos já se acostumaram a pouca luz.
Tudo foi sempre muito pouco e muito restrito,
faltavam olhares,
faltava dinheiro,
faltavam amigos,
faltavam cheiros, sensações...
sempre caminhei isolado em minha literatura,
protegido por ela.
Não aprendi a curtir o sol
e hoje
sinto falta de seu calor ter aquecido minha alma
quando eu ainda nem sabia o que era alma.

Compreendi
desenvolvi
amadureci
mas não dá mais tempo de proteger a criança
que ficou perdida e ferida
por não saber olhar para a luz;
a criança que teve os olhos fechados
por medo da dor
e com isto aprendeu a ter medo do sol.

Minha janela está coberta com um pano preto
há apenas uma greta,
um corte em meu coração que me ligou com um mundo que eu não conheço.
Meus desejos sempre foram cobertos com um pano preto
cobertos por um menino que não sabia
o que era o seu coração.
Vão todos ficar lá
para sempre.

Reconstruo novos desejos,
reabasteço-me de sensações reais
mais fortes e mais intensas do que as perdidas,
mas o meu coração é o mesmo do menino perdido embaixo dos panos pretos...
crescido com muito pouco sol,
curtido em silêncio com as palavras,
palavras que hoje podem me dar a eternidade.

Não foi o sol que trouxe-me o amor.
Foram as palavras.
Jamais vou tirar os panos pretos da minha janela.

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