terça-feira, 2 de agosto de 2011

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Eu não estou aqui
por isso eu não sei dar nomes
e me confundo com o desenrolar de cada história.
Não sei mais pensar,
não sei mais perceber as sensações;
tudo ficou preenchido de um espaço tão grande
que me perdi dos meus próprios desencontros.

Eu não estou aqui sentado
diante de um computador e de um blog
porque ninguém me disse que eu poderia estar
e nesse mundo tudo é uma questão de poder ou não poder.
Cresci desobediente,
teimoso, gritador, baderneiro quando preciso;
descobri com o tempo como é aceitar a ordem,
como é não estar,
e ainda,
como é querer não estar para que o outro esteja.

Eu não estou aqui,
porque o eu que eu conhecia
tinha a cabeça erguida como um girassol em pleno meio dia,
olhando audacioso para a vida...
seguindo seu destino,
os amigos se foram,
o empregos também,
os desejos se encerraram e sinto tanta falta de tanto que nunca fiz...
tudo porque nunca quis me esquecer do que sou feito,
mas hoje não estou aqui,
porque me sinto tão desintenso, tão não certo,
não sei nem se o que faço agora é sentir.

Não estou aqui,
porque aqui, neste mundo em que não poder é o maior direito,
eu não vivo,
não em conformidade com ele;
e se me conformo, como o tenho feito,
ou não estou aqui,
ou não estou mais vivo...
a questão é que,
dói tanto que a dor me prova que a vida ainda permaneceu,
então não permaneci eu.

Não estou aqui,
e se não estou o que estará em meu lugar?
Um homem que vai enriquecer porque o conforto de sua vida é o que importa?
Um homem que um dia vai usar roupas mais caras do que o que muita gente gasta com comida por meses?
Um homem que se esqueceu do que foi feito?
Não quero que este seja eu,
e se o for,
que a dor se finda,
e só assim saberei que não existe mais vida...

Não estou aqui,
porque o aqui que eu conheço
é onde todos podem tudo,
é onde a vida se renova e nunca se esquece de ser vida.
É onde eu sonhei estar
e descobri que eu não sonhei ser quem eu sou.
Cada um escreve a sua história e minhas mãos escrevem qualquer história,
e ando escrevendo uma na qual
um homem aprende que obedecer o sistema
porque todos à sua volta o veem como certo,
acatar suas regras e deixar
que a vida transcorra dentro de muros fechados à verdadeira essência humana
é o correto.
Não quero contar essa história, por isto não quero estar aqui comigo.
Não me sou boa companhia.

Não estou aqui,
porque aqui está aquilo que eu mais repudio,
e se isto sou eu,
qual o sentido de pensar ser alguma coisa?
Não estou aqui,
porque aqui não posso ver seus olhos,
e é tudo o que eu mais preciso agora,
sua voz demorou tanto pra chegar e já se foi...
mas fomos obedientes,
alguém disse que não podia,
então não podia,
aceitamos que fosse assim...
e de tanto não poder tantos morrem
enquanto outros desperdiçam sua vida num luxo que não conseguem digerir.
Por isso eu não estou aqui,
porque se eu estivesse não estaria calado.
Não sei o que não aguento mais perder, não sei o que quero ganhar.
Só sei que o que perdi
talvez nunca mais encontre,
eu.

Não estou aqui,
está apenas o poema
e um recorte desestabilizado da memória do que um dia pensei ser.
Sou fraco, obediente
e aceitei as imbecilidades que a humanidade chamou de certas,
justo esta humanidade que construiu sua história
baseada em guerras, destruição e terror.
E quanto mais somos quietos, mais as atrocidades nos cercam.
Por isto eu não estou aqui
porque no mundo em que desejei viver os homens gritam contra as atrocidades,
mas aqui eu as aplaudo com eles.
O certo e o errado,
criado por quem?
Aceitado por todos nós...

Não estou aqui,
porque se estiver,
já deixei de viver há muito tempo...

Um comentário:

  1. É impossível ficar inerte a tantos significados. A arte escolheu suas palavras pra nos contar sentidos.

    Te amo meu poeta.

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