sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Quando os meus olhos não enxergarem mais
eu me lembrarei
não dos grandes feitos de que tive oportunidade
mas dos pequenos sorrisos que cultivei nas rodas de amigos.

Quando eu não puder ouvir mais o som da palavra
não sussurrará em minha alma os belos discursos ou os grandes poemas,
e sim as piadas sem graça
contadas na calçada ou
na mesa de um boteco feio.

Quando eu não entender mais o calor do sol
não me recordarei das praias turísticas
e sim dos goles de Whisky com bala de gengibre
que me deixaram acordado por três dias.

As bolinhas em meus olhos me contam
que o tempo passa
todos os dias.
O sol que vai e vem
me esquenta
às vezes demais
que encho a janela de pano preto.
A leve dor no joelho às vezes
não me deixa esquecer
que a vida é rápida
e se vai pra haver mais vida.
Minhas constantes palavras
cuspidas no ar que eu não enxergo
me dão o direito à eternidade
e não levarei para esta eternidade
a glória
e sim os pequenos desejos de cada dia.

Não preciso de um carro importado,
me basta rir de um maluco no ônibus.
Não preciso de uma mansão,
me basta uma geladeira, um fogão, um colchão e você do lado.
Não preciso que a minha escola tenha 10 andares,
me basta a confiança dos pequenos artistas.
Não preciso de etiquetas caras na roupa,
me satisfaço com uma meia colorida sob o sapato preto.

Tantas coisas eu não tive
tantas palavras eu encontrei.
Nunca guardei dinheiro,
nunca extravasei de tanto dançar,
nunca saí beijando um monte de bocas numa micareta (na minha época não faziam isto),
nunca fui numa chopada, numa churrascaria rodízio, num motel,
a única vez que passei vários dias em uma praia
era quente demais e eu ficava escondido do sol.
Nunca tive dinheiro suficiente para pagar todas as minhas contas...

Nunca bati em alguém
nunca enganei os sentimentos de outra pessoa
nunca roubei
nunca tomei um porre
nunca desisti dos meus sonhos
nunca me escondi por medo
nunca deixei o meu egoísmo conduzir minhas decisões.

Nunca aprendi a verdade que o mundo tentou me ensinar
porque esta verdade estava errada.

Nos ensinam a buscar o sucesso, a glória
e esquecem de fazer brotar os sorrisos despretensiosos.
A vida toda ouvi falar em carreira, crescimento profissional,
A vida toda falei em poesia.

As pessoas que vivem no mundo estão todas desordenadas.
E meus olhos todos os dias me lembram
que irei levar das pessoas apenas os gestos de delicadeza,
e que quando a luz cessar
me restará a paz
daquele que sorriu todos os dias...

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