terça-feira, 4 de agosto de 2015

enterrador

Raramente as palavras são leves e sabem voar,
por isso ficam enterradas para serem descobertas pelo futuro.
Não posso curar os medos que não são meus,
só tenho convites, não tenho receitas.
Os beijos escondidos aquecem o coração,
mas as paredes em volta esfriam a alma
e minha alma é quente,
minhas mãos são quentes.

Raramente as verdades são leves e chegam devagar,
por isso ficam enterradas tão fundo
que talvez nem o futuro as encontre.
Sou um enterrador de verdades e palavras
porque não sei de leveza aparente
só sei de leveza de alma
só sei de desejos imortais.

Raramente os homens bons são mesmo respeitados
por isso ficam distantes e sós,
apedrejados por decisões mundanas e menores que suas almas.
E seu coração corre solto o risco de se ferir,
mas corre livre,
ainda que morto e enterrado ao lado de suas palavras.

O que preciso é apenas tocar minha poesia
pois a poesia me conta todo o resto,
inclusive o amor que sinto,
tão grande e infinito quanto sinto.
O que preciso é apenas de uma mão presa à minha
e que não haja mais nada que as possa soltar,
e que mãos juntas
se juntem às palavras de verdade,
e saibam ir
sem parar para ouvir
a terra que cobre os nossos desejos e nos condena à solidão.
Preciso do tempo que é meu,
e por isso escrevo poesia,
pois mesmo enterrado ao lado de minhas palavras,

preciso estar vivo depois do poema. 

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