sábado, 1 de outubro de 2011

Misturada


Hoje o meu poema vai ser em prosa porque se for em versos eles irão se perder em metáforas ilegíveis e soltas nas janelas do tempo e do entendimento. Vi a lua cortada ao subir o morro, ela não me respondeu sequer uma palavra e então tive que buscar um conhecimento que não consigo atingir, experimentar ou sequer visualizar. Não entendo porque o tempo passa mais devagar para o amor e é imediato para a diversão. Não entendo porque o amor tem que pedir tanto o que a diversão ganha sem pedir, ela tem o direito de pegar. Não entendo porque é preciso ensinar ao amor que não se pede, se faz. Vivemos nos epílogos, próximos ao fim, construímos sentenças desmontáveis e de estabilidade efêmera para que tudo termine e tudo seja perdido, talvez porque não saibamos encontrar e assim tentamos reencontrar, mas para isto é preciso sempre perder. A diversão tem concessões que o amor jamais terá e se encontra num patamar mais elevado dos desejos humanos, quanto mais nos divertimos mais a queremos e mais mergulhamos nela e a falta sempre leva a explodir. Ela acontece nos ambiente propícios, já o amor, torna-se um ambiente propício para se descansar o desejo e dormir, pensando no que se poderia estar fazendo. E damos à diversão o direito de ser este sonho. E quanto ao amor, quanto mais amamos mais ele pode ser deixado quieto para que outras coisas aconteçam, perde a prioridade, perde o calor e jamais irá explodir. Pra quem se diverte a agressividade e o desejo de caça é uma qualidade que salta aos olhos, já para o amor é uma insistência chata sujeita aos “nãos” constantes, que são cada vez mais constantes, sempre mais, sempre mais fácil dizer, sempre mais fácil ouvir. O amor cresce na medida em que crescem as privações, num ritmo intenso e incansável. Quanto mais se ama e se afirma o amor, menos se pode, menos se pede, menos se tem. O amor e o tempo deslizam abraçados em direção ao nada. Não ouvi isto da lua fina e silenciosa que me olhava, nem das palavras de alguém. Não ouvi nada. Apenas estou escrevendo porque não sei a relação do amor com a literatura, sei apenas que as palavras constroem e destroem com uma voracidade incontrolável e como eu gostaria de aprender apenas a construir mesmo que para isto fosse preciso que me deixassem destruir em demasia e sem defesa e sem coragem de gritar para que o peito possa na dor sucumbir o tempo e explodir em amor como nenhum foi capaz de explodir e por isto morreram indefesos, inglórios e subjugados. Minha cabeça está confusa. O amor sempre perde os seus direitos, por isto o tememos tanto. Ensinamos a ele que nos divertimos sem pensar, mas só amamos se tivermos certeza e segurança, no amor ninguém aposta sem saber o que está fazendo, pelo amor ninguém arrisca e se permite errar, o amor tem que estar embasado na certeza, enquanto pra tudo mais fechamos os nossos olhos e nos jogamos porque assim é bom, porque nos dá vontade e não sabemos explicar o que acontece. Não entendo porque nunca fechei os meus olhos e me joguei nas diversões deliciosas que todos desejam; talvez porque eu seja um escritor e ainda não encontrei uma forma de escrever de olhos fechados. Mesmo que as minhas retinas não sobrevivam, manterei os meus olhos abertos. De tão abertos vejo o amor sucumbir nos desejos que ele jamais realizará, ainda que banais e simplórios. Porque se ele é amor, ele sempre tem que entender. Estou jogado no amor, mergulhado na sua eternidade tentando recontar a minha história de uma forma diferente da humanidade inteira. Estou mergulhado nas palavras que me envolvem tentando que elas não deixem o amor se desviar pelos caminhos do esquecimento, e por isto são palavras, para que eu possa mostrar ao mundo tudo que tive a coragem de encontrar. Não aprendi tantas coisas, não experimentei quase nada do que o mundo me ensinou que era bom. Por isto eu posso amar sem restringir o meu amor. Sem dizer agora não. Sem dizer eu não sei. Eu nunca precisei saber se estava certo ou não. Temo que eu seja a única pessoa que só fecha os olhos e pára de pensar quando o amor chega, mas o mundo inteiro me convida a viver a diversão de olhos fechados e a dizer ao amor, espere um pouco, você é o amor, você pode entender. E assim, aprendemos a conduzir o amor a ficar descartado em um canto, porque isto é o certo a se fazer, e aprendemos a fazer o certo e o distinguir do errado. E um dia, todo amor se tornará uma lembrança tão silenciosa como a lua cortada que vi no céu; porque esta é a grande verdade, uma verdade que eu jamais serei capaz de compreender.   

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