Tac tac tac tarara tactactactac tarara tac tac tactactactac tara tarararara tac tac tac tac... E enfim chega o fim do dia que não passa de um dia tac tac tarara tactac. Bom, o datilógrafo faz datilografia todo dia que se anuncia dia de datilografia. Ele tem as palavras, muitas e muitas palavras que datilografa sem travas porque são suas as palavras palavreadas de sua mente e coração. Tac tac tarara tactac.
E pela rua como uma criança nua
de compreensão ele segue sem a companhia da lua que hoje não apareceu pegou em
sua mão, uma mão vazia de outra mão ou da coleira de um cão ou de uma sacola ou
de uma bola ou um ticket refeição. Seus dedos ainda se mexem no movimento
infinito do tac tac tarara tactac.
Ele chega ligeiro em casa, ninguém
o para no caminho nenhum amigo pois amigos não há para quem tac tac tarara
tactac durante todo o dia grafando a magia de tudo o que não existiria sem a sua
datilografia que reescreve a teoria da existência do que seria a vida que
existiria se palavras não houvessem não.
Em casa de barriga não vazia após
uma solitária refeição sua mão acalmada do tac tac tarara tactac percebe uma
melodia escassa e esguia que dança sem afeição ao lado de um tempo sem alento
repleto de solidão que quebra e fere a memória sem nada para memoriar porque não
há o que comemorar quando se comemora sozinho qualquer criação o que agita sua
pequena mão e a outra mão segue a sentença das palavras que vagueiam em sua
mente intensas por ser um criador e constantes por ser amado apenas pelas
paredes silenciosas da sua prisão.
Sentado e de coração encaixotado
ele olha para o lado sentindo o tremor de sua mão e sua vida vazia o lembra da
datilografia, sua única escolha e opção e então é que começa o dia mesmo já não
sendo dia e as palavras se tornam um som repetido e infinito de tac tac tac
tararara tactac tac tac tarara tac tactac tac tarararatatac tac tarara tac ta
tara tac tactac taratac tarara tactactactac tarara tactac tactararara tactac
tara tac tara tac ta ra ra ra tac ta tac ta...
Não ele não morreu, adormeceu? Adoeceu?
Se esqueceu de si? Ou tem apenas palavras demais para continuar a respirar e se
recusa a datilografar não por poder recusar mas por já não mais suportar tanto
tac tac tarara tactac como as batidas de seu coração que não compreende a
condição de uma vida vazia na datilografia que escreve e fia a linha fininha da
evolução que é contada amontoada e planejada em um montão de palavras que surgem
da mão que só faz tac tac tarara tactac para substituir ou sufocar o som das
palavras surdas nunca ditas por uma mente em ebulição que precisa muitas vezes
ouvir e ouvir e ouvir mas nada é dito a quem é deixado guardado na casa ao lado
sentado diante da velha máquina de escrever porque não importa que a sua vida
esteja morta já que tudo vai reviver em uma folha lotada de letras amontoadas.
Vivam amigos do datilógrafo já
que ele tac tac tarara tactac para que tudo exista a vocês e seus sorrisos e
esperanças possam ser alimentados e não abandonados já que precisam de palavras
amontoadas para construir seus desejos e alimentar a sua ambição criativa e
certos estão quando não o tiram de seu quadrado afinal o que não for
datilografado não existirá e o datilógrafo nunca importará mais do que suas
palavras gravadas no branco vazio de uma vida que ele nunca viu acontecer.
Mas por que ele não diz “oh estou
aqui”? Ele diz em tac tac tarara tactac mas isso é o que todos querem então ele
tem que dizer mais e ficar mais lá e dizer mais e ficar mais lá par que todos
fiquem felizes e ele mesmo já disse fora da datilografia mas viu que não
adiantaria implorar por afeição e ter que explicar e explicar e explicar mil
vezes como se sente um homem das palavras porque de tanto tac tac tarara tactac
ele aprendeu que sentimentos não se explicam, eles precisam ser observados e
compreendidos e se ninguém o compreende é porque ninguém o observa e para quem não
observa até compreender explicar não faz sentido afinal não é um humano ali
apenas dedos que tac tac tarara tactac com precisão.
Tac tac tac tarara tactactactac
tarara tac tac tarara tactactactac tara tarararara tac tac tac tac... mais um
dia... Tac tac tac tarara tactactactac tarara tac tac tactactactac tara
tarararara tac tac tac tac... outro dia Tac tac tac tarara tactactactac tarara
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tac tac tactactactac tara tarararara tac tac tac tac... dez anos Tac tac tac
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tac... mais um dia Tac tac tac tarara tactactactac tarara tac tac tactactactac
tara tarararara tac tac tac tac... semana Tac tac tac tarara tactactactac tarara
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tactactactac tarara tac tac tactactactac tara tarararara tac tac tac tac... dez
anos Tac tac tac tarara tactactactac tarara tac tac tactactactac tara
tarararara tac tac tac tac...
O datilógrafo já sente a tempo
seus dedos doerem não mais que sua emoção de não ser buscado ao lado dos leitores
e existidores na vida que existe por suas palavras tac tac.
Os parágrafos ficam mais curtos e
as mãos mais geladas de tanto tac tac sozinhas.
Tac tac tarara tactac tem
conhecimento demais nessas palavras.
Tac tac tarara tactac também tem
melancolia.
Tac tac tarara tactac existe
criação.
Tac tac tarara tactac vida não há.
Tac tac tarara tactac eu...
Tactac tarara tactac...
Tac tac tarara tactac.
Tac.
Tac.
Tac.
Ta.
T.
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