Do que vale a vida se você se alimentar de dias tristes?
Reparou as flores em seu caminho
ou preferiu prestar atenção na buzina dos carros, nos barulhos, fumaça e motos
apressadas no corredor?
Viu os pássaros voando pelo céu
(e acredite, eles voam todos os dias) ou preferiu se ater ao lixo no chão que
suja o seu caminho?
Gostou do caminho ou se prendeu
ao cansaço de andar? O tempo gasto de um lugar ao outro não é gasto, é vivido. Se
é vivido, pode ser aproveitado.
Por que se alimentar de dias
tristes? Pensar neles infinita e repetidamente, sentir os sentimentos que eles
lhe oferecem em detrimento dos seus. Como é a vida se vivida de forma árdua e
sem alegria? Não é vida, é uma corrida para se esconder de si mesmo.
Tantos são aqueles que parecem
bons e interessantes ao seu olhar treinado pelo mundo. Ricos, fortes, belos
(uma beleza predeterminada pela mídia, é claro); pessoas que consomem, falam o
que foram programados, vestem-se de etiquetas que demarcam seu poder de
consumo, dirigem carros velozes, cuja velocidade máxima é inútil. Comem em
lugares caros porque não sabem cozinhar. Acho que aprendemos a nos perder do
que é verdadeiramente real, um chopp na feira sem compromisso, um amigo que
paga mais da metade da conta só porque está ali, uma folga forçada no meio da
tarde, um único pedaço de bolo que atravessou quinze quilômetros até você. Coisas
comuns, de pessoas comuns, que parecem pequenas aos amantes do dinheiro. Pobres
são eles que sofrem ao lado de pessoas de almas pobres e vazias de beleza.
Eu me lembro das flores brancas
na frente da minha casa e não dos carros que passam correndo. Eu me lembro do
cheiro das pessoas e não de quanto tinham na carteira (até porque poderiam não
ter nada), eu me lembro dos sorrisos, e não do que vestiam... e dos meus dias
mais terríveis, prefiro não me lembrar da dor, mas dos pássaros que vieram em
um lugar impróprio a eles, mas vieram para me ajudar a desvendar o véu da arte
do futuro. Vieram porque eu precisei que viessem, sem pedir nada, sem oferecer nada.
Títulos, posses, status, riqueza;
de nada servem se meus dias não são plenamente felizes. E por plenamente eu
afirmo que até os dias tristes têm a sua felicidade porque ali, na tristeza,
sabemos quem somos e o que realmente vale apena.
Você trabalha demais para juntar
dinheiro? Você faz o que não quer porque lhe parece preciso? Você se cerca de
pessoas influentes? Que pena, eu trabalho muito, mas folgo muito, e amo o que
faço. E só faço o que quero porque não há nada melhor que ser feliz todos os
dias. Me cerco de amigos maravilhosos que não precisam influenciar ninguém. A tristeza,
quando vem, é menor que a alegria da vida.
Ao acordar não temo o dia que
virá, porque sei que ele virá repleto de maravilhas, pequenas, sutis e
delicadas. Como a vida, tão delicada como um grão de poeira, mas é tudo o que
move o universo.
Do que vale a vida se você se
alimentar de dias tristes? Do que vale a vida se o seu cansaço for o pagamento
pelo seu dia? Do que vale a vida se suas lágrimas forem a sua certeza? Do que
vale a vida se o seu amor machuca? Do que
vale a vida se tudo o que você faz não te faz feliz?
O que é a vida fora da
felicidade?
O que é uma vida cujo passar
silencioso do tempo é tudo o que esperamos, para que ela passe rápido? Não é uma
vida, claro. É um desperdiçar-se de si mesmo como migalhas deixadas em um caminho
do qual a única lembrança é a escuridão.
E como queremos uma felicidade
que nunca passe, mas aí está o segredo, o vai e vem da felicidade nos move e
nos torna vivos e felizes. Claro que muitos ‘lugares’ oferecem descansos,
retiros, renascimentos, tudo a 5 ou 7 mil por um final de semana. Ora,
felicidade só para ricos? Ou quase ricos... isso não passaria de felicidade
roubada e ela não faz feliz o ladrão.
A felicidade só existe se
compartilhada, ainda que com uma única palavra ou um pequeno toque ou gesto.
A felicidade só acontece quando
sabemos exatamente quem somos e, principalmente, quem não somos.
Ser feliz é não precisar ser
feliz. É não buscar a felicidade em momentos de alívio, na loucura, nas festas
infindas, nas compras imensas, nas fugas que são confundidas com viagens; e nos
amigos que só estão ao nosso lado quando fugimos, pois também estão fugindo e
só querem alimentar sua máquina de fuga.
Ser feliz é precisar de si mesmo,
na essência sutil de cada dia. É estar ao lado de quem não nos oferece nada,
porque não precisa oferecer, só a sua existência já nos basta.
Ser feliz é soltar as partes que
foram acopladas a nós, mas não fazem parte do nosso eu, são apenas um fardo que
nos prende para que não partamos com o vento.
Ser feliz é vencer o medo que nos
afasta de nossa essência e, sem medo, nos jogar ao vento insano do precipício, onde
a queda é o simples e puro movimento da vida. Afinal, chegamos ao chão no mesmo
dia e no mesmo horário, não importa o caminho que tomemos. A escolha nos dá o
direito de descer livres e com o vento no rosto, ou de descer arrastando e agarrados
às pedras, com as mãos feridas e cheias de dor.
Fomos todos presos em jaulas de
significado e regras. Temos muito medo de sair pois as jaulas parecem ser tudo
o que existe. Mas, há algo interessante sobre isso: o medo acaba quando saímos.
Do que vale a vida se você se
alimentar de dias tristes? Quando você tem a oportunidade de inundar-se de dias
felizes.
Ame o frescor do tempo, respire a
leveza da vida, abrace, sorria, caminhe ao lado, só faça o que te faz feliz, ame
a todas as pessoas do mundo, mas só caminhe ao lado das que podem te amar. Crie.
Cresça. Erre e aprenda feliz. Sonhe. Realize. Sinta o coração acelerar de
paixão ao realizar. E só faça aquilo que o acelera. Escute a vida, ela canta o
tempo todo uma bela canção. Respire o tempo, ele te preenche de vida. Troque a
grandeza pela simplicidade, pois grande é aquele que precisa de pouco. Passeie
ao lado de alguém, mesmo que sem motivo. Ouça os convites sutis e delicados. Abra
os convites e olhe para a estrada à sua frente, que eles trazem. Segure uma
mão, ainda que seja estranha ou pobre. Inspire o ar da vida e expire felicidade,
que contagia. Inspire mais uma vez... e mais outra... e mais outra... e mais
outra...
Há um presente dentro de você,
que só cabe a você abrir, a felicidade.
Do que vale a vida sem a
felicidade? Preciso rir se você achar que isso é algum tipo de vida. Se escolhemos
viver, escolhemos ser felizes. Abrace-se. Ame-se. Viva-se.
Eu te desejo toda a felicidade do
mundo. Não a tema. Ela é um direito seu.