segunda-feira, 30 de outubro de 2023

A Raposa

 Eu sou como a raposa do Pequeno Príncipe,

você vai precisar me cativar.

 

Não basta chegar perto e tocar ou trazer o seu cheiro,

é preciso cativar a minha ética

mostrando o seu respeito a todos os seres humanos

e depois cativar a minha verdade

deixando transparecer sua alma sem medo de ser quem é

para em seguida cativar o meu silêncio

não dizendo nada, apenas deixando florir um sorriso

que te permitirá cativar o meu coração

ao ouvir o som do seu a badalar em meus ouvidos

e vai cativar o meu olfato

com o seu cheiro doce ou o aroma verdadeiro dos seus sentimentos

não antes de precisar cativar a minha pele

com seus toques suaves e gentis, ainda que fortes

para depois cativar o meu desejo

aguardando o tempo em que o ar entre nós se torne um só

e só assim cativar o meu espaço

até que eu chegue perto como se fôssemos um

para poder cativar o meu amor

e pertencermos à história entre nós

para poder cativar as minhas palavras

e se tornar a minha poesia.

 

Mas ainda assim será preciso cativar a minha arte

porque sem ela não serei eu quem estará lá,

e sim apenas uma sombra respirando uma história efêmera

que desaparecerá ao pôr-do-sol.

Minha arte é como a lua que surge à noite para não deixar o sol partir,

ela não dorme porque seu sono ilumina as histórias e sonhos.

Minha arte arrasta as marés para si mesmo sem tocá-las,

porque o tato, o cheiro, as palavras, os sorrisos, a ética

a verdade, o amor e tudo mais que eu puder citar

são meras fagulhas diante da existência;

a arte é existir e estar em tudo

sem precisar tocar, porque tudo nasce da luz que não se apaga.

 

Por isso é preciso cativar a minha arte

para que eu simplesmente possa existir.

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