sexta-feira, 18 de julho de 2025

Elegia aos dias frios

Você já veio até mim, é veio,

quando precisava trabalhar, talvez,

para terminarmos em grupo um projeto com prazo ferrado.

Já me gritou na rua quando seu dinheiro acabou, não que eu tivesse mais

já me levou para examinar o cérebro que não tinha nada de errado.

Já veio falar comigo todos os dias tentando me conquistar,

já veio tentar destruir a minha humanidade,

ferir a minha arte.

Já veio e virá aos eventos sociais,

já me procurou para saber ou resolver coisas,

veio até mim para treinar e aprender

veio para trabalhar...

veio e virá por tantas coisas...

você... todos os vocês que que conheço...

tantos vocês... nem consigo contar.

 

Mas nunca veio por motivo algum,

aquele dia que, talvez ele se sinta sozinho

sozinho demais para conseguir escrever...

 

eu sou feito de palavras

e quando elas não vêm

eu deixo de existir

 

Ah! Por que nunca me falou?

Eu disse de muitas formas, toda vez que falo “não consigo escrever” estou gritando por socorro...

Já disse em poemas que divulguei...

Já disse com histórias...

Já disse com teorias e fórmulas para mudar o mundo...

Já disse com respostas curtas que me fazem parecer estranho...

Já disse com convites para “ir ali”, mas que já desisti de fazer...

 

Já disse com tantas palavras

que já não faz mais diferença dizer

e ainda assim estou dizendo agora...

 

paredes velhas

música

silêncio

mais e mais e mais ideias

palavras impedidas pelo silêncio da inexistência dos abraços

as teorias mais belas (e prováveis)

o oitavo do mundo (até o momento)

pelo menos eu posso cantar errado, ninguém vai ouvir...

 

Às vezes,

quando estou só,

eu expulso as palavras

e sem palavras

eu pareço não existir...

 

e nunca, nunca mesmo, alguém virá

até o temido dia em que eu não consiga sair do chão sozinho...