Jorge o balão, estava preso ao chão
ele fechava os olhos todos os
dias, quase o dia inteiro
e sonhava em voar pelas nuvens,
ganhar o mundo, enfrentar as tempestades
conhecer os pássaros
ver o sol nascer e se por entre
as gotas finas da vida
que ecoam pelos ares.
Mas Jorge o balão estava preso ao
chão,
mesmo tendo muito ar dentro dele,
que podia levá-lo ao infinito,
ainda assim ele ficava lá,
sem mesmo se arrastar,
apenas ficava e reclamava do chão
duro
e de nunca ter voado.
Jorge o balão tinha coisas demais
dentro de seu cesto
muitas caixas pesadas, cheias de
memórias, certezas
pessoas, sentimentos...
elas pesavam demais para ele
subir.
Mas as caixas estavam fechadas e
Jorge o balão
nem podia compreender o seu
conteúdo;
sempre estiveram ali, fechadas,
nunca foi diferente.
‘Ano que vem as caixas vão se
abrir’
‘um dia elas vão entender o meu
sonho’
‘quando as caixas virem o quanto
eu amor voar elas vão me deixar livre’
‘eu amo as caixas, as caixas me
amam’
‘se eu contar para elas o meu
sonho elas vão se emocionar’
‘um dia essas caixas vão sair e
me deixar leve’
...
‘ou melhor, elas vão ser balão
comigo...’
E assim Jorge o balão passava
seus dias, quer dizer, anos,
sonhando e esperando o futuro que
viria cheio de mudanças,
sem perceber que o balão é
pequeno demais para caber nele o futuro,
que só existia lugar para o
presente...
mas ele esperava no futuro estar
no céu sobre as nuvens,
sem saber que nuvens se desfazem
muito rápido
e só existem em um pequeno
momento, o agora.
Mas Jorge o balão tinha uma
esperança linda
e seus olhos brilhavam ao pensar
em voar pelo mundo.
Os anos, é claro, caminham a
passos contínuos
alimentados pelo tempo e suas
manias,
a principal delas, a mania de passar...
Jorge o balão, como todo balão ao
longo do tempo,
começou a perder um pouco de ar
e começou a murchar.
Mas ainda dava tempo de voar,
só que agora as caixas estavam
mais pesadas
e amor de Jorge o balão por elas
aumentara com o tempo,
afinal,
ele reclamou dela todos os dias
e tornou-as a coisa em que mais
pensava,
mais do que eu seu próprio sonho
de deslizar sobre as nuvens.
Mas Jorge o balão nunca desistiu
de sonhar
mas Jorge o balão nunca jogou
fora as caixas pesadas demais
sempre as esperou pular ou se
transformar...
‘Jorge, esqueceram de te dizer
que caixas não pulam, caixas são sempre caixas’
Jorge o balão está preso ao chão
murchando, chorando, esperando ao
lado das caixas
que elas se tornem asas para
levá-lo aos céus...