Estou aqui, sentado em minha pequena varanda, no chão,
ainda sem móveis
atrás da cortina marrom que
disseram ser a pior escolha para a minha sala.
Aguardei o sol se pôr no dia de
hoje em que é homenageado o teatro
Eu quis esperar o fim do dia
porque sem o fim o dia seguinte
nunca se iniciaria.
Eu sou como uma onda que por
muito tempo pensou ser o movimento,
sem compreender que era apenas
parte inseparável do oceano
com medo de me misturar a todas
as águas e não ser nada.
Mas a onda volta ao oceano quando
o movimento atinge o seu destino
e tudo se torna uma coisa só.
Então me sento aqui,
preocupado por estar praticamente
sem dinheiro para os próximos meses
afinal trabalhar com teatro não é
um caminho endinheirado
mas ainda assim tudo que fiz e
farei é: teatro.
Escrevi, encenei, dirigi, ensinei
e encontrei caminhos
e nunca pararei de trilhá-los
porque meus pés não sabem ser de outra forma.
Eu vim da arte e um dia voltarei
a ela.
O teatro fez de mim o que eu sou.
Ao pensar no que ia escrever eu
quis, por um momento, que ficasse incrível...
Eu sempre me esqueço de que isso não
é preciso,
eu vivi uma vida incrível ao lado
de pessoas incríveis;
amigos, amor, aprendizes,
professores, perguntas que eu não podia responder e mudavam a minha vida,
abraços de um universo inteiro.
Eu não preciso da grandeza,
eu tenho todas as pessoas que
passaram em minha vida
e só posso ver tudo isso agora
porque
faço teatro. E ele me ensinou a
enxergar.
Já é possível compreender que sou
movimento
e que o oceano é feito de tudo
que existe
inclusive de mim.
E como oceano eu posso ser tudo
ou qualquer um
sem medo de perder a minha
história
porque eu só tenho uma história
se ela for a história de todos...
e essa minha filosofia se parece
tanto com
teatro
A todos que um dia tentaram ser
outro,
não precisa, sendo você todo o
outro existe em sua essência.
Vamos deixar a onda quebrar na
praia e se fundir
com o oceano do qual ela nunca
deixou de fazer parte
porque somos arte
porque somos gente de teatro...