Quando o sol brilhar
contemple a noite que chega com
suas vozes intensas,
ria das estrelas e veja os mundos
que ainda não conhece;
porque o se passa é o caminho que
somos incapazes de conhecer.
Quando a fé tirar os seus
companheiros,
até mesmo os mais leais
entenda que eles só queriam ouvir
a voz da divina palavra
vinda do que eles não viram e
fizeram força para acreditar,
afinal a verdade deve ser una e
não pode pertencer ao simples humano em corpo,
deve pertencer àquele que fala
com retórica sem chegar a nenhum lugar,
pela boca de ninguém,
porque o tolo que busca a
elevação não se torna ninguém.
Quando o medo for o combustível e
a incapacidade formar seus seguidores,
siga sozinho porque a escuridão
da noite que brilha
ama os solitários e dá a eles o
poder da criação.
E suas mãos escrevem
o que as palavras esqueceram em você.
E quando os deuses, os grandes
guias
se aproximarem de você,
não duvide, ria da fraqueza de
suas almas que se acham escutadoras da palavra do deus
e levam consigo mentes pobres,
corpos escondidos e almas doentes,
e que bom que são doentes, porque
assim eles têm a quem tentar curar.
E quando o dia chegar,
lembre-se da noite
e saiba que ela não abandona os
verdadeiros humanos,
os que sabem que se todos somos
um,
não há guias, ou falas
transmitidas através da matéria,
ou santos, ou milagres, ou
deuses, ou demônios,
ou do que você quiser chamar
aquele em quem acredita.
Se somos um eu posso tudo, sem
que ninguém me diga.
Mas os doentes não têm coragem de
olhar para a verdade
e sim, existe uma verdade,
ela não está diluída, um pedacinho
em cada roda religiosa.
Ela existe e rodas ou templos decidem
apenas sua pobre forma de não olhar par ela.
Que são muito parecidas, apenas
disfarçadas de discursos com cores diferentes.
Então,
é preciso que fiquem doentes para
que os seus líderes acalantem os seus corações,
para que os amem e os sigam,
como ovelhas guiadas por um
pastor,
um salvador,
sem o qual você, pobre e pequeno
ser sem identidade,
estaria perdido nos seus
pensamentos e traumas,
sem que eles fossem inconscientemente
tratados e isto mudasse você,
sem que perceba;
graças ao divino guru a quem você
tem certeza, sempre teve é o que acredita,
estava destinado a encontrar.
Aquele que algo dentro de você faz
saber e acreditar que é o seu caminho.
O mesmo algo que faz doente.
É. Seu algo é mesmo confiável. Claro
que deve confiar na intuição de alguém
incapaz de cuidar da sua cabeça sozinho,
alguém incapaz de acreditar em si
mesmo,
alguém incapaz de tornar verdade
a sua força interior,
alguém incapaz de controlar seus
pensamentos,
alguém incapaz de saber se é
guiado por outro ou não,
alguém incapaz de enfrentar seus
fantasmas,
alguém incapaz de desobedecer
qualquer ordem,
alguém incapaz de acreditar em si
mesmo e em sua grandeza,
alguém incapaz de se olhar e
confiar;
mas, quando encontrar seu templo
e seu guru, terá uma certeza feroz e os defenderá
mesmo que isto custe a vida de
outros.
Porque você é incapaz de tudo,
menos de duvidar do discurso
desencaminhado do ser intangível.
Quando a noite chegar.
Eu não serei cego.
Eu não serei o seu guia.
Eu irei.
Porque não sou incapaz,
não tenho líder,
não tenho círculo ou templo,
não aprendi uma forma de não ver
da verdade.
E quando você não puder mais me
entender,
perderá a minha criação,
que é tangível e esteve o tempo
todo depositada sobre suas mãos
para buscar a fé na criação
guiada pelo divino fluido ou tão superior que te mantém longe.
Ou mantém como marionete incapaz.
E se passa,
é, o tempo passa
e deixa preso ao tempo quem não quis
ver o que ele é,
é tangível,
tem sabor, cor, cheiro, gosto,
corpo...
E se passa,
é, a arte passa e acaba quando a
tememos.
E tem mesmo que passar
e levar com ela só os capazes,
pois só eles podem entender e
transformar a criação.
E criação não é distante de nós,
você mora dentro dela, pisa sobre
ela, e se alimenta dela,
e adoece fugindo dela.
E se passo,
sim, eu passo
porque vou,
criar é ir, conhecer caminhos,
com medo ou coragem, mas sempre
ir
como o tempo, que de tanto ir,
tornou-se tudo.