quinta-feira, 28 de março de 2024

Jorge o balão

 Jorge o balão, estava preso ao chão

ele fechava os olhos todos os dias, quase o dia inteiro

e sonhava em voar pelas nuvens, ganhar o mundo, enfrentar as tempestades

conhecer os pássaros

ver o sol nascer e se por entre as gotas finas da vida

que ecoam pelos ares.

 

Mas Jorge o balão estava preso ao chão,

mesmo tendo muito ar dentro dele, que podia levá-lo ao infinito,

ainda assim ele ficava lá,

sem mesmo se arrastar,

apenas ficava e reclamava do chão duro

e de nunca ter voado.

 

Jorge o balão tinha coisas demais dentro de seu cesto

muitas caixas pesadas, cheias de memórias, certezas

pessoas, sentimentos...

elas pesavam demais para ele subir.

Mas as caixas estavam fechadas e Jorge o balão

nem podia compreender o seu conteúdo;

sempre estiveram ali, fechadas, nunca foi diferente.

 

‘Ano que vem as caixas vão se abrir’

‘um dia elas vão entender o meu sonho’

‘quando as caixas virem o quanto eu amor voar elas vão me deixar livre’

‘eu amo as caixas, as caixas me amam’

‘se eu contar para elas o meu sonho elas vão se emocionar’

‘um dia essas caixas vão sair e me deixar leve’

...

‘ou melhor, elas vão ser balão comigo...’

 

E assim Jorge o balão passava seus dias, quer dizer, anos,

sonhando e esperando o futuro que viria cheio de mudanças,

sem perceber que o balão é pequeno demais para caber nele o futuro,

que só existia lugar para o presente...

mas ele esperava no futuro estar no céu sobre as nuvens,

sem saber que nuvens se desfazem muito rápido

e só existem em um pequeno momento, o agora.

 

Mas Jorge o balão tinha uma esperança linda

e seus olhos brilhavam ao pensar em voar pelo mundo.

Os anos, é claro, caminham a passos contínuos

alimentados pelo tempo e suas manias,

a principal delas, a mania de passar...

 

Jorge o balão, como todo balão ao longo do tempo,

começou a perder um pouco de ar

e começou a murchar.

Mas ainda dava tempo de voar,

só que agora as caixas estavam mais pesadas

e amor de Jorge o balão por elas aumentara com o tempo,

afinal,

ele reclamou dela todos os dias

e tornou-as a coisa em que mais pensava,

mais do que eu seu próprio sonho de deslizar sobre as nuvens.

 

Mas Jorge o balão nunca desistiu de sonhar

mas Jorge o balão nunca jogou fora as caixas pesadas demais

sempre as esperou pular ou se transformar...

‘Jorge, esqueceram de te dizer que caixas não pulam, caixas são sempre caixas’

 

Jorge o balão está preso ao chão

murchando, chorando, esperando ao lado das caixas

que elas se tornem asas para levá-lo aos céus...

Nenhum comentário:

Postar um comentário